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Afroturismo dá visibilidade para ancestralidade negra de Corumbá

10 ABR 2025 • POR Gesiane S. Lourenço • 12h41
É de terras pantaneiras, a primeira startp do setor no Estado. - Foto: Thayná Cambará

Comumente conhecida por suas belezas naturais e pela força no agronegócio, Corumbá tem revelado mais uma vocação através do Afroturismo. É de terras pantaneiras, a primeira startp do setor no Estado. Mais que um CNPJ, a Bela Oyá Pantanal é um movimento de transformação social e reparação racial, que educa e dá visibilidade para a história da ancestralidade negra em Corumbá.

O Capital do Pantanal conversou com Thayná Cambará, idealizadora da agência Bela Oyá Pantanal, que no final de março participou da 1ª Conferência de Afroturismo do Estado. Thayná considera o momento histórico, simbólico e necessário.

"Mato Grosso do Sul tem uma presença negra forte, mas muitas vezes invisibilizada. Estar nessa conferência, como idealizadora da primeira Startup de Afroturismo do Estado, é emblemático. Com certeza esse encontro ficará como um marco não só na história pessoal e profissional, mas também na história do MS, que vem, de forma comprometida e profissional, pautando a gestão em projetos nos quais a população participa sendo protagonista dessa história", ressalta

Thayná aponta que dentro dos temas discutidos na conferência, o debate sobre pactuação entre as esferas públicas é o de maior importância. "Precisamos que o municipal, o estadual e o federal falem a mesma língua. O que fazemos em Corumbá é pioneiro, mas precisa de continuidade e políticas estruturantes. Estamos alinhados ao cenário nacional, com ações do Ministério do Turismo (como o mapeamento do afroturismo), da Embratur (promoção internacional), e do Ministério da Igualdade Racial (com o Programa Rotas Negras)", detalha.

Thayná, ao centro do grupo, aponta a 1ª Conferência de Afroturismo de MS como uma marco para o setor. Foto: Matheus Carvalho/Secretária de Estado da Cidadania

Corumbá possui três comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Palmares, a maior presença de Povos de Terreiros no Estado e uma identidade pantaneira profundamente conectada à Ancestralidade Africana. Com fatores tão fortes assim, as possibilidades de roteiros e narrativas são riquíssimas. Através do afroturismo, o protagonismo negro, antes marginalizado, agora tem espaço para florescer com respeito e dignidade.

Apesar de toda riqueza histórica, marcada pela resistência negra, a maioria dos corumbaenses vivem alienados a esse conhecimento. Thayná explica que há um desafio grande no reconhecimento da cultura afro-brasileira como parte da identidade do corumbaense. "A missão da Bela Oyá é justamente resgatar essas histórias, valorizar nossos ancestrais e reforçar o orgulho de pertencer a esse território", ressalta.

Entre os principais pontos de afroturismo em Corumbá estão as comunidades remanescentes (Família Ozório e Maria Theodora); a Tenda Nossa Senhora da Conceição, símbolo de Mãe Cacilda de Paula; Sarobá e o trabalho de Lobivar Matos; as Ladeiras do Porto Geral e o Vale dos Orixás; e as pessoas e suas histórias, pois, de acordo com Thayná, as pessoas são o verdadeiro ponto turístico.

"Participar de um roteiro de afroturismo é como viver uma aula viva de história — com afeto, cheiro de comida e som de tambor. É transformar o que era invisibilizado em orgulho. É aprender com quem vive, sente e tem raiz", a fala de Thayná inspira e instiga a participação nos roteiros que podem ser realizados por qualquer pessoa, independentemente de cor, religião ou origem, todos saem transformados após a experiência,

Como um campo ainda pouco explorado, existem necessidades e demandas que precisam ser supridas para que o afroturismo possa crescer e atrair cada vez mais turistas locais, de outros estados e países. Para Thayná, "investimento em infraestrutura, formação de profissionais, apoio técnico, valorização dos mestres do saber e políticas públicas com pactuação entre as esferas", são essenciais para que o setor alcance visibilidade real.

A participação na 1ª Conferência de Afroturismo do Estado plantou sementes de esperança e grandes expectativas para o setor. "Essa conferência é um divisor de águas. Esperamos mais investimentos, mais editais, mais visibilidade. E que mais afroempreendedores vejam no seu território a possibilidade de futuro", diz Thayná.

Thayná se prepara para levar a Bela Oyá Pantanal para participar da WTM Latin América, maior feira de turismo na América Latina. Foto: Matheus Carvalho/Secretaria de Estado da Cidadania

Indicação ao 3º Prêmio de Afroturismo do Guia Negro e participação na WTM Latin América 2025

Consolidando seu trabalho pioneiro no setor do afroturismo em Corumbá e Mato Grosso do Sul, Thayná Cambará é uma das indicadas para o 3º Prêmio de Afroturismo do Guia Negro, que acontece dentro da WTM Latin América, em São Paulo. O evento, que acontece em 14 de abril, é uma feira de negócios B2B de turismo e viagens considerada o maior da América Latina.

A Bela Oyá Pantanal foi indicada como "Melhor experiência fora do eixo Rio/São Paulo/Salvador". Para Thayná, ser indicada é um reconhecimento imenso. "Mostra que o que fazemos em Corumbá reverbera. É sinal de que estamos no caminho certo, e que o afroturismo pantaneiro tem força, raiz e futuro", declara.

Thayná relembra que em 2024, quando a Bela Oyá lançou o Circuito Kaô Corumbá de Xangô, vinculado ao Arraial do Banho de São João, nosso patrimônio cultural do Brasil, foi algo desafiador, porém também foi uma afirmação de que a agência possui um produto forte, com raízes profundas e potência comercial.

"Estar na WTM é estratégico e simbólico, é lá onde o mundo do turismo se encontra — e nós queremos estar ali com presença, mostrando que o afroturismo do Pantanal é legítimo, sustentável e pronto para o mercado nacional e internacional. Chegamos em 2025 com mais preparo, mais visibilidade e metas claras de ampliação das nossas comercializações. É um marco no nosso processo de amadurecimento", declara Thayná almejando grandes conquistas para o setor.

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