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Maratona de Inovação Binacional percorre o Pantanal para discutir soluções para comunidades

Participantes da Maratona da Inovação visitaram as comunidades ribeirinhas e ouviram as principais necessidades dos moradores

15 NOV 2024 • POR Agência Sebrae de Notícias • 10h04
Maratona de Inovação foi realizada em um navio que percorreu o rio Paraguai para conhecer a realidade das comunidades pantaneiras. - Foto: Divulgação/ASN

Empreendedores de startups de Mato Grosso do Sul, de outros estados e da Bolívia, além de pesquisadores de instituições públicas e privadas, representantes dos governos estadual e federal, bem como de organizações da sociedade civil e lideranças indígenas embarcaram em um navio pelo rio Paraguai para vivenciar como as grandes distâncias no Pantanal trazem dificuldades para comunidades pantaneiras, além de buscar compreender os obstáculos vividos no dia a dia pelos moradores, incluindo indígenas guatós.

Essa proposta foi desenvolvida com a Maratona de Inovação Binacional no Pantanal, que durou entre os dias 10 e 14 de novembro, em uma programação que envolveu a 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e foi promovida pelo Sebrae/MS com o governo do Estado, via Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), por meio do convênio MS Inova Mais. Além de contar com o apoio do Ecossistema de Inovação de Ladário e Corumbá e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O conselheiro do Sebrae/MS e secretário executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação da Semadesc, Ricardo Senna, destacou que a maratona ocorreu na semana que se comemora o Dia do Pantanal, celebrado em 12 de novembro, e representou uma importante medida de fazer escuta ativa para levantar problemas e se pensar em soluções duradouras.

“Foi feita visita a comunidades para buscar entender melhor os reais problemas que afetam a vida cotidiana deles. A missão envolveu criar soluções que causem efeito positivo. Vamos tentar identificar soluções que podemos ter aqui em Mato Grosso do Sul, ou buscar em contatos de outros locais. A gente precisa ouvir as comunidades, afinal são eles que vivem e conhecem esse território”, ressaltou Senna, que participou da maratona, tanto visitando ribeirinhos como indígenas guatós, além de ser jurado para avaliar propostas.

A diretora-técnica do Sebrae/MS, Sandra Amarilha, percorreu também os mais de 400 kms de ida e volta pelo rio Paraguai para participar dessa oitiva nas comunidades e avaliar as propostas que surgiram na maratona. “Foram apresentadas propostas e soluções de impacto. Quem participou dessa maratona teve a oportunidade de ouvir das comunidades pantaneiras o quanto há de amor pelo território e a necessidade de se buscar propostas com respeito a esse conhecimento local”, expôs.

Trabalho em conjunto

Foram envolvidos mais de 50 especialistas de dois países para que houvesse empenho no desenvolvimento de ideias sustentáveis que podem transformar-se em produtos e serviços que ainda serão ofertados para atender dores das comunidades, bem como gerar ações de conservação do Pantanal. Para a viagem pelo rio Paraguai, ainda estiveram envolvidos 39 profissionais, que atuaram 24 horas por dia, ao longo de mais de 28 horas de navegação.

Representantes da Fundación Trabajo Empresa (Bolívia), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Uniderp/Anhanguera, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), da Embrapa Pantanal, do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), do Bioparque Pantanal, e de startups como Pantabio, Mil pelo Planeta, Nesst, Maya Labs, Vireciclo, Pantanal Inova, além da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur), Secretaria de Estado da Saúde (SES) e Aldeia Uberaba (Guatós), entre outros, mergulharam em sete desafios e foram chamados para estudar soluções para um deles.

Participantes percorreram as comunidades pantaneiras de barco pelo rio Paraguai. Foto: ASN

A lista dos desafios envolveu tratamento de água e esgoto, bioeconomia e turismo, mitigação de incêndios florestais, mobilidade local, integração local, alternativas sustentáveis em serviços para catadores de isca e novas ideias territoriais.

Desde o Centro Sebrae Pantanal, envolvendo um tour por pontos turísticos da Capital do Pantanal, visita à sede do IHP até a embarcação que partiu do Porto Geral de Corumbá e foi até a região do Alto Pantanal, cerca de 200 km rio Paraguai acima, os participantes receberam provocações e ouviram de lideranças e moradores o que é viver nesse território.

Doutora honoris causa pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Catarina Ramos, conhecida como dona Catarina Guató, promoveu uma palestra aos participantes. “A gente não pode perder uma oportunidade. Se alguém dá uma oportunidade, eu, por exemplo, sou uma pessoa que aceita. Aprendi artesanato assim. E temos que buscar o conhecimento e levar o conhecimento. Esse evento é importante por isso. Temos que superar o desafio da distância que é a aldeia Guató, o gasto para o transporte, os problemas para promover o artesanato das artesãs de lá”, comentou.

Fátima da Silva tem 53 anos de vida habitando áreas remotas do Pantanal, às margens do rio Paraguai, e foi outra pessoa a detalhar os desafios a serem superados. “A gente tem muito carinho pelo Pantanal e faz de tudo para que quem chega aqui acaba tendo também muito carinho pelo Pantanal. Com a seca e o fogo, coletar isca ficou mais difícil. A comunidade inteira pantaneira sofreu muito. O peixe também ficou difícil de pescar”, pontuou.

Enaurina da Silva, 62 anos, que sempre viveu na região do Alto Pantanal, é outra moradora que reforçou o compromisso que precisa haver entre a inovação e o território para gerar bem-estar social. “Eu nunca dispensei meu Pantanal para outra morada ou outra coisa. Receber esse grupo, poder explicar o que sabemos, isso representa um elogio para gente. Tivemos dificuldade com o fogo, por exemplo, mas hoje estamos buscando reerguer sem os incêndios”, relatou.

Empreendedores, representantes do poder público e de instituições brasileiras e bolivianas participaram da Maratona de Inovação. Foto: Divulgação/ASN

Propostas vencedoras

Como a maratona representou uma ebulição intensa de discussão sobre propostas, envolvendo a escuta ativa, problematização e testagem de soluções, cinco jurados que atuam na Semadesc, Sebrae/MS, Sebrae Nacional, Fundación Trabajo Empresa e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) avaliaram 10 propostas que foram feitas por grupos formados no evento e selecionaram os três melhores projetos.

O vencedor foi “Quem arrISCA, não PetISCA”, que buscou trazer uma solução no armazenamento de iscas e teve como desenvolvedores Tiago Calves, Nelson de Avila Gordin e Marivaine Silva Brasil Mansur Cardoso. A segunda colocação ficou com Pantevap, que discutiu medidas no saneamento, e teve como integrantes Danila Fernanda Rodrigues Frias, Luan Douglas Barreto Gimenez e Rosemary Matias Coelho. Em terceiro ficou o projeto HIP, que trata sobre integração local de soluções em colaboração e teve como participantes Romel Junior, Nayana Cambraia Viana Oliveira e Andrea Gomes dos Santos.

“Trabalhar com meio ambiente não é nada fácil, essa maratona veio como um incentivo para haver mais engajamento e propostas de solução. Todos que foram ouviram histórias muito fortes para criar compromisso na transformação”, destacou Nelson Gordin.

Entre os integrantes da maratona, o mais novo foi Jairo Levi Segundo Vásquez, que mora em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), de 18 anos. No país vizinho, ele desenvolve um projeto com granja que busca envolver jovens de até 24 anos. “Esta é a minha primeira vez no Brasil e já tive o privilégio de vir para um lugar tão maravilhoso como o Pantanal, em meio a uma oportunidade de aprender tanto para ajudar, de certa maneira, comunidades de povos indígenas no meu país e, quem sabe, ainda desenvolver algo no Brasil”, comemorou.

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