Apesar de incluso pelo do Ministério do Meio Ambiente na lista de espécies ameaçadas desde 2022, em Mato Grosso do Sul (MS), o pintado tem a pesca liberada. E para saber como ele se distribui e se apresenta atualmente nos rios das Bacias do Paraguai e do Paraná no Estado, além de outras no País, uma pesquisa está sendo feita por mais de 10 especialistas na espécie. Ela foi encomendada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura e deverá ser entregue até 2025.
O biólogo e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Três Lagoas, Fernando Carvalho coordena a análise dos peixes nos rios da Bacia do Paraná. Pescadores profissionais da Colônia Z-10, sediada em Fátima do Sul, ajudaram o trabalho fisgando 40 exemplares para a pesquisa nos últimos feriados de criação de Mato Grosso do Sul (11) e Nossa Senhora Aparecida (12).
Fernando explica que serão coletados materiais genéticos dos peixes em laboratório. Autorização do Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) permite que 60 pintados, no total, sejam pescados para fins científicos nos rios Vacaria, Brilhante, Dourados e Ivinhema até 31 de outubro deste ano.
O pintado tem realidades diferentes nas Bacias de cada estado. O que se sabe a partir de pesquisas anteriores é que é a espécie mais abundante capturada na pesca artesanal e que predomina a presença de um [peixe] híbrido na Bacia do Paraná”, afirma o professor.
Sobre o pintado híbrido, Fernando descreve que ele foi gerado por técnicas de psicultura e hoje pode representar “grande parte dessa população nos rios de Mato Grosso do Sul”. Por não ser de linhagem pura, “não seria passível de nenhuma protetiva”, acrescenta.
Os resultados da nova pesquisa vão embasar plano de recuperação da espécie ameaçada no Brasil e podem contribuir com decisões sobre a exploração sustentável do pintado puro e do híbrido.
Sobre o andamento do estudo na bacia do rio Paraguai, em Corumbá, ainda não foram divulgadas informações.
Plano de recuperação
A pesca do pintado é livre no Estado com base em portaria do Ministério do Meio Ambiente que a garante enquanto corre paralelamente um plano de recuperação da espécie iniciado em 2023.
A permissão vai vencer em janeiro de 2025. Caso as pesquisas e o plano ainda não tenham terminado, é possível a prorrogação dos prazos.
O professor frisa que a ameaça à espécie não está relacionada à pesca predatória. "Nunca foi pesca, o que levou ao estado de preocupação que nós estamos, é a construção de hidrelétricas, principalmente na Bacia do Paraná e do São Francisco".
Fernando explica que as usinas que geram energia elétrica acabam interferindo na reprodução da espécie. "É um peixe de corredeira que precisa de muitos quilômetros de trechos de rio para reprodução, normalmente precisa ser um 'grande lago'. Com a correnteza gerada pelas hidrelétricas nos rios, ele perde orientação para se reproduzir".
Multa e fiança
Ainda no feriado de 12 de outubro, pescador da colônia de Fátima do Sul acabou levado à delegacia junto a parte dos pintados pescados para a pesquisa científica, porque os exemplares tinham medidas diferentes das autorizadas para pesca da espécie em Mato Grosso do Sul e estavam sem as vísceras. Ele pagou fiança e foi liberado.
A Colônia Z-10 contestou a medida, já que uma resolução autoriza a captura até o dia 31 e os pintados não seriam vendidos. O pescador acabou saindo no prejuízo.
A PMA (Polícia Militar Ambiental) respondeu que "a resolução que autoriza a captura e o transporte do pintado para pesquisa traz algumas condicionantes e, dentre as exigências que devem ser seguidas rigorosamente está a manutenção do pescado inteiro e com vísceras", o que não foi atendido. Assim, a pesca acabou se enquadrando em crime ambiental e o homem terá que pagar multa.
E o dourado?
Espécie que atualmente está proibida de ser pescada nos rios de Mato Grosso do Sul é o dourado. A proibição começou a valer em 10 de janeiro de 2019 e foi prorrogada por nova lei até 31 de março de 2025.
A medida é questionada por ainda não ser embasada em estudo como o que está em andamento sobre o pintado.
Em julho deste ano, o Imasul publicou edital para selecionar instituição sem fins lucrativos para pesquisar a presença do dourado, mas apenas nos rios de Corumbá. A contratada vai receber até R$ 110 mil para isso. A previsão era que o resultado da seleção fosse divulgado até 29 de agosto.
O professor defende a ampliação do estudo. "É uma espécie muito presente nos rios da Bacia do Paraná também", inclui. *Informações do CG News
Receba as notícias no seu Whatsapp. Clique aqui para seguir o Canal do Capital do Pantanal.