A operação “Cartão Vermelho”, deflagrada nesta terça-feira (21), pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizada), investiga esquema de desvio de R$ 6 milhões na FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul). Foram identificados mais de 1.200 saques para diluir os valores e “driblar” a fiscalização. A entidade é presidida há quase 28 anos por Francisco Cezário de Oliveira, 77 anos, que está no sétimo mandato.
De acordo com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a ofensiva desbarata organização criminosa voltada à prática de peculato e delitos correlatos na federação que comanda o futebol no Estado.
Em 20 meses de investigação, o Gaeco constatou que um grupo desviava valores, provenientes do Estado (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou mesmo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em benefício próprio e de terceiros.
“Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul – FFMS, em valores não superiores a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para não alertarem os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema”, informa a nota da promotoria.
Nessa modalidade, verificou-se que os integrantes da organização criminosa realizaram mais de 1.200 saques, que ultrapassaram o total de R$ 3 milhões.
Hotéis
A organização criminosa também contava com esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. O esquema de peculato tinha “cashback”, numa devolução criminosa de valores.
“Esse esquema de peculato estendia-se a outros estabelecimentos, todos recebedores de altas quantias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. A prática consistia em devolver para os integrantes do esquema parte dos valores cobrados naquelas contratações (seja de serviços ou de produtos) efetuadas pela Federação”.
Ao todo, os valores desviados da FFMS, no período de setembro de 2018 até fevereiro de 2023, superaram R$ 6 milhões.
A operação “Cartão Vermelho” cumpre sete mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão, nos municípios de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. Já foram apreendidos R$ 800 mil em espécie. A ação tem apoio da PM (Polícia Militar).
Na Capital, viaturas do Gaeco amanheceram em frente à Federação de Futebol de MS, no Bairro Amambaí, e na casa de Cezário, no Taveirópolis.
Verba pública
De acordo com investigação, nos últimos 15 anos, a FFMS recebeu R$ 11,5 milhões de verba pública, somente através de convênio com a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul). Nos últimos três anos foram mais de R$ 3,2 milhões. O destino do repasse é para custeio de arbitragem, hospedagem dos times visitantes, alimentação, entre outras despesas previstas apenas para a primeira divisão do Campeonato Estadual. Para a edição de 2024, que durou exatamente três meses, foi repassado R$ 1,2 milhão, o maior valor depositado desde então.
Apreensão
Na casa de Francisco Cezário de Oliveira, 77 anos, presidente da FFMS, foi apreendida alta quantia de dinheiro em espécie - mais de R$ 800 mil. O imóvel de alto padrão, murado do chão ao telhado, fica no Bairro Taveirópolis, em Campo Grande.
O nome da operação, “Cartão Vermelho” é autoexplicativo e faz alusão à expulsão de jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.
A defesa da FFMS informa que esclarecimentos serão prestados durante o dia. “Nessa fase qualquer investigação é sempre unilateral; logo ela será submetida ao necessário contraditório; devemos aguardar os esclarecimentos, que serão prestados, oportunamente”, afirma o advogado André Borges.
A Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura) informou que "sobre os questionamentos de que as denúncias da operação Cartão Vermelho apontam supostos desvios de recursos oriundos da Fundesporte [Fundação de Esporte] , esclarecemos que a mesma não é alvo da referida operação e, em tempo, acompanha as investigações e espera que as denúncias sejam apurados no rigor da lei". A reportagem não conseguiu contato com a CBF.
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