Nesta quarta-feira, 22 de janeiro, foi divulgado o registrado um novo caso de óbito de onça-pintada, vítima de atropelamento na BR 262. O corpo do animal, um dos símbolos da exuberância do Pantanal, foi encontrado no trecho entre os municípios de Miranda e Corumbá, no último dia 19 de janeiro, pela Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul. Com este novo registro, entre 2016 e janeiro de 2025, de acordo com o levantamento realizado pelo Instituto Homem Pantaneiro, 20 onças-pintadas foram mortas por colisões com veículos na rodovia federal BR-262.
Em de maio de 2023, mobilizado, entre outras lutas, pela redução drástica dos índices de atropelamentos da fauna silvestre nas rodovias de Mato Grosso do Sul, o Instituto SOS Pantanal coordenou a realização de um protesto realizado em frente à sede do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), órgão responsável pela gestão da BR 262. A intervenção coletiva – que somou esforços de outras quatro entidades: Chalana Esperança; Espaço Silvestre; Instituto LiBio e Fridays for Future – reuniu elementos impactantes, como a exposição de carcaças de animais vitimados por atropelamentos ocorridos no trecho que liga Campo Grande a Corumbá.
Para a SOS Pantanal, o tratamento de choque para escancarar a urgência de implantação de medidas preventivas surtiu efeito, mas com consequências tímidas, até o momento. Em 2024 foi finalmente aprovado o Plano de Mitigação, elencando uma série de ações que visam diminuir o risco de colisões. A iniciativa prevê a realização de obras como: cercamento de trechos da estrada; construção de passagens inferiores e superiores de fauna; e a instalação de novos radares e redutores do excesso de velocidade, um dos principais fatores para o elevado registro de atropelamentos.
O Instituto, que faz parte de um grupo de trabalho sobre o tema de colisões entre fauna e veículos junto a outras instituições como o ICAS, IHP, Onçafari, Instituto Libio, e Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), ressalta que a cada dia que passa, milhares de animais estão sendo ceifados, aumentando a pressão para a ações que possam interromper esse ciclo.
“É revoltante assistir essas mortes diárias, e saber que os números alarmantes que temos são subestimados. Com certeza os números reais são muito maiores. Já protestamos de todas as formas, inclusive presencialmente na sede do DNIT. Houveram singelos avanços no processo, mas na prática, ainda não vimos resultados. Esse problema se estende para as estradas estaduais, que são tão ruins quanto a BR-262 neste quesito.” Gustavo Figueiroa, biólogo e Diretor de Comunicação do Instituto.
Rodovia da Morte
Conhecida como “Rodovia da Morte da Fauna”, a BR 262 é a nona maior rodovia do Brasil, com 2.213 km de extensão, que interliga Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Gerida pelo DNIT, principalmente no trecho que corta o Pantanal, a estrada federal acumula elevados índices de atropelamento de animais.
Segundo estudo publicado por pesquisadores do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), em três anos de monitoramento, entre 2017 e 2020, foram registradas mortes de 12,4 mil animais. Entre eles, 363 eram de espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada, a onça-parda, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e a anta. Cerca de metade desses animais era de porte grande, ocasionando acidentes graves para vidas humanas, e a maioria das colisões (90%) ocorreu durante a noite, quando há maior atividade da fauna e menor visibilidade da pista.
A pesquisa também apontou que a realidade é ainda pior do que se vê, porque menos da metade dos animais mortos é contabilizada. A maioria deles, ferida pelas colisões, tenta fugir do local e morre minutos depois, já longe da rodovia, fazendo com que seus corpos dificilmente sejam encontrados. A frequência desses acidentes também é assustadora: a cada três dias, dois tamanduás-bandeira morrem somente no trecho da BR-262 que liga Aquidauana a Corumbá, o que tem reduzido pela metade o crescimento de sua população.
Também desenvolvido pelo ICAS e realizado entre maio de 2023 e abril de 2024, o Projeto Bandeiras e Rodovias compilou, a partir de inspeções quinzenais, números tão alarmantes quanto os do estudo anterior: de maio de 2023 a abril de 2024, foram encontrados 2,3 mil animais vítimas de colisões, no trecho de Campo Grande até a ponte do Rio Paraguai, cerca de 350 km de estrada, abrangendo os biomas Cerrado e Pantanal; entre as espécies mais atingidas, tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato foram as espécies mais frequentemente encontradas mortas.
Para além da BR-262, o atropelamento da fauna silvestre tem índices igualmente graves em estradas estaduais de Mato Grosso do Sul, rodovias como a MS-040, MS-178 e MS-382, que ainda não dispõem de medidas para a mitigação de colisões.
Sobre o SOS Pantanal
O Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Paraguai SOS Pantanal é uma organização ambiental nascida em 2009, que atua na conservação do Pantanal, promovendo o aprimoramento de políticas públicas, a divulgação de conhecimento e o desenvolvimento de projetos para o uso sustentável do bioma. Por meio da ciência e do diálogo, o SOS Pantanal fomenta as transformações necessárias com o apoio de diversos setores da sociedade civil e do poder público. *Informações da Comunicação da SOS Pantanal
Receba as notícias no seu Whatsapp. Clique aqui para seguir o Canal do Capital do Pantanal.