Eleições 2016 e o Poder Invisível
Por Valmir Moura Fé, Delegado de Polícia
Houve um tempo na Grécia antiga, em que a democracia era exercida diretamente pelo povo, a ideia de democracia teve aí sua origem e desenvolveu-se na história humana. Agregados em grupos e por necessidades diversas, os seres humanos passaram a criar mecanismos de controle social formal com a criação do Estado Moderno, com modos de participação popular sobre o destino da nação e com o objetivo do bem comum. Aristóteles já dizia que, “O homem só ou é um bruto ou um deus”. Ou seja, a reunião em sociedade é da natureza humana e o instinto social inerente à convivência das pessoas.
A democracia se desenvolveu e criou raízes fundamentais em todo o mundo. O povo é, em tese, onde se concentra a origem de todo o poder e é responsável pelas decisões fundamentais do Estado. Isso é realizado por via direta ou indireta, sendo que na praticidade moderna, a participação indireta por meio de políticos eleitos é a forma mais comum nas sociedades atuais.
O interesse do bem comum, defesa do patrimônio público, zelo e probidade na administração pública, seriam, por conseguinte, os reais valores dos representantes do povo. O senso comum há muito tempo desconfia que há algo de errado neste quadro apresentado sobre democracia: povo, seus representantes e o interesse público.
A dúvida se torna mais latente, diante das notícias diárias de que políticos representantes do povo estão envolvidos em crimes de corrupção e desvio de dinheiro público para interesses pessoais. A democracia, a eleição e a ideia central do estatuto democrático estaria em crise, já que um vazio e desilusão se abatem no sentimento do povo. Enganado pelos seus representantes, o povo fica descrente na representatividade popular, nos políticos e na forma apresentada pelo sistema democrático. Este que sobrevive a tudo e a todos os desmandos.
Neste panorama apresentado, e diante das mazelas políticas decorrentes de eleições duvidosas, bem como políticos eleitos com dinheiro sujo, irrigadas com dinheiro da corrupção; ressurge a ideia de Poder Invisível já descrito pelo cientista político Norberto Nobbio. O Poder Invisível ou “Estado Duplo”, seria outra forma de poder existente na sociedade que age de forma oculta, mas que seria o verdadeiro poder que dirige e orienta os destinos da nação. Os representantes do povo (políticos eleitos), na sua grande maioria, agiriam a mando deste Poder Invisível que é verdadeiramente quem manipula os sistemas jurídicos, e até de controle social formal, por interesses isolados a grupos econômicos e ideológicos bem distantes do interesse do povo.
No caso do Brasil, é possível verificar situações em que o sistema representativo eleitoral apresenta fortes indícios de fraude ao regime democrático com engodo ao povo. Haveria a figura do “eleitor fantasma”, ou seja, a massa de pessoas votantes num sistema dominado não pela regra conceitual da democracia, e sim por interesses obscuros (O Poder Invisível).
Partidos e candidatos eleitos são acusados diariamente de usarem dinheiro oriundo de corrupção para financiar candidaturas, inclusive com o chamado “caixa 2”, dinheiro não declarado na justiça eleitoral, e mesmo os recursos declarados – na verdade – seriam recursos ilegais. Os eleitos seriam fantoches de um Poder outro que não é o instituído pelo Estado; representam não o povo, mas o Poder Invisível e nele se sustenta e defende.
As eleições deste ano serão para prefeitos e vereadores. Segue o padrão das eleições anteriores com leis e regras para todos, digo para o público visível, que os interesses obscuros de grupos econômicos persistirão na vontade de se apropriar dos cofres públicos, bem logo de garantir os serviços públicos fundamentais. O Poder Invisível estará agindo na escuridão. Só com mais informações e educação é que o cidadão poderá agir uma democracia de verdade.